Quando Ruy Barboza de Castro Filho começou a batucar numa máquina de escrever, o Flamengo era tão diferente que nosso mascote ainda era o Popeye.
O time daquele ano de 1967, quando o moço Ruy Castro se tornou repórter no Rio de Janeiro, era sempre espinafrado: Marco Aurélio no gol, Murilo, Ditão, Jaime Valente e Paulo Henrique; Nelsinho e Rodrigues Neto; Luiz Carlos Lemos, Ademar Pantera, João Daniel e Arílson. Ruy fez bem em ser mais um rato de livrarias do que de estádios.
Cinquenta e cinco anos depois, Ruy Castro foi eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras – sem prejuízo de sua cadeira na Academia Flamenga de Letras, claro. O jovem que sonhou ser meia-direita do Mengão teve 32 votos contra três para a nobre cadeira de número cabalístico, para inveja do craque e treinador Zagallo. “A cadeira 13 é extraordinária”, comentou Ruy, em casa com amigos e colegas imortais. “O patrono dela é um dos pais da imprensa do Brasil, Francisco Otaviano”, explicou.
Carioca nascido acidentalmente em Caratinga, MG, Ruy coleciona alguns feitos literários na carreira. O mais marcante foi finalizar sua obra-prima, “Carmen – Uma biografia” no sofrido ano de 2005, temporada em que o Flamengo não inspirava ninguém. Era Diego no gol, Léo Moura, Rodrigo Arroz, Júnior Baiano, Henrique e André Santos; Fabiano, Jônatas e Renato Abreu; Jean e Obina.
LIVRO MAIS POPULAR DE RUY CASTRO
Seu livro mais popular, de capa bonitona e com mais de 40 milhões de leitores, claro, é “O vermelho e o negro – Pequena grande história do Flamengo”. Foi naquelas páginas que Ruy nos ensinou: “Sua camisa vermelha e preta viaja de canoa pelos igarapés, galopa pelas coxilhas, caminha pelos sertões, colore todas as praias, está nos barracos e nas coberturas. Suas cores vestem homens e mulheres, famosos e anônimos, pobres e ricos, idosos e crianças, feios e bonitos. Quem é? Leva o prêmio quem disser Flamengo.”
(Vamos e venhamos: só naquele “galopa pelas coxilhas” já merecia a cadeira da ABL, é ou não é?)
Ruy Castro ainda ensinou, no mesmo livro, como o clube preto e vermelho soube unir “gerações, cores de pele e sotaques em torno de sua bandeira. Ao inspirar um rubro-negro do Guaporé a reagir como um rubro-negro da Rocinha (com os mesmos gestos e expletivos, e no mesmo instante), o Flamengo ajudou a fazer do Brasil uma nação”.
Como diria Castro, a oposição não se conforma, mas não pode fazer nada. Agora o Flamengo tem mais um irmão imortal na ABL, depois do monstro sagrado José Lins do Rego e de tantos célebres escribas. E o melhor, eleito sem necessidade de segundo turno.
O que será do Brasil
Com Ruy eleito, por sinal, agora o povo flamengo pode se preocupar com a segunda eleição mais importante deste mês de outubro. Dureza. Na opinião dos direitistas, a vitória de lá dará em Venezuela; para o outro lado, a reeleição nos fará uma nova Hungria, ou o Peru do lamentável Fujimori. Como o brasileiro não anda acertando nada, nem previsão, os dois lados provavelmente devem se enganar.
Eu, como leitor do Ruy – processado algumas vezes por este governo por suas opiniões – já fiz minha escolha. No governo Temer, foram 16 tentativas judiciais para tentar calar artistas; no atual governo, foram 221, segundo o Mapa da Censura, no portal movimentomobile.org.br/mapa-da-censura.
Eu vou batucar 13, sem medo. O imortal Ruy Castro, e quiçá Zagallo, aprovariam.
Por: Marcelo Dunlop
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