Por: Marcelo Dunlop
Ao acompanhar a triste volta para casa das seleções e jogadores derrotados, lembrei de uma história das mais obscuras que cercam nosso escrete canarinho. Se você está com alguma xícara de café na mão ou algum outro utensílio frágil, é bom largar e se concentrar aqui, que a história é horripilante – melhor até segurar o celular com as duas mãos.
Era abril de 1978, e o escrete canarinho perambulava desanimado pelo aeroporto Charles de Gaulle, o popular CDG. O clima era justificado: pela primeira vez, a seleção brasileira perdera para a França. O Brasil até tivera algumas chances, desperdiçadas por Reinaldo, e no fim tomou o 1 x 0, diante de 46.065 excitados torcedores em Paris.
Como entrou a seleção brasileira?
Na véspera o Brasil adentrara o relvado do estádio Parque dos Príncipes com uma equipe poderosa: Leão; Toninho, Oscar, Amaral e Edinho; Cerezo, Zico, Rivellino e Tarcíso; Reinaldo e Dirceu. Rivellino, do Al-Hilal, e Zico, craque do Flamengo, jogaram muito, mas não resolveram. “Búfalo” Gil e Nunes entraram quando estava 0 x 0.
Na volta para casa, deu-se o caso tenebroso, testemunhado por ninguém menos que a lenda viva José Carlos Araújo, e narrado em “Paixão pelo rádio”, livro de Rodrigo Taves que me foi presenteado pelo sogrão Santoro.
Enquanto os jogadores matavam o tempo numa joalheira do aeroporto, deu-se a confusão. Um dos jogadores surrupiou um relógio de milhares de francos e tentou sair de fininho. Imediatamente o alarme zurrou e a polícia francesa fechou todo o terminal para localizar ambos, a joia e o gatuno.
O Garotinho é quem conta:
“Assim que os passageiros começaram a ser revistados, o jogador se livrou do flagrante entregando o relógio para um amigo repórter da Rádio Nacional”, recorda o locutor da Tupi. “Eu vi toda a movimentação, até que esse repórter chegou com aquele relógio de milhares de dólares na mão, jogou-o no chão discretamente e, pimba, chutou-o para baixo de uma poltrona do aeroporto. Esse repórter ainda está em atividade na imprensa, e o jogador hoje é treinador, e inclusive já trabalhou no Rio. A gente embarcou e o relógio ficou lá, debaixo da poltrona…”
O furto permanece um mistério para as autoridades francesas.
Já o jogo França x Brasil foi revelador. No segundo tempo, o meia Jean Petit cruzou, Oscar cortou mal e a bola sobrou limpa para um jovem francês chutar forte no canto esquerdo de Leão. Platini, aos 86 minutos – num sinal do que o futuro reservaria à seleção na Copa do México, anos e anos depois.
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