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    Feliz Natal Rubro-Negro

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    Que me desculpem os bien-pensants e os “idiotas da objetividade”, mas ser racional é uma coisa detestável quando se trata do velho esporte bretão.

    Meditando sobre o feriado de Natal, chego a uma verdade a um só tempo inexorável e apodítica: todo torcedor de futebol, em maior ou menor grau, foi, é ou será um sebastianista.

    Gostamos catolicamente de cultivar ídolos, fazer bustos de gesso, esperar por messias que nos purgarão de todos os nossos pecados, nossas baixezas, nossas imoralidades, etc., para enfim criar santinhos com os seus rostos e balançar anonimamente nas arquibancadas.

    Nosso Messias

    Acho que foi Leibniz quem havia dito que “nós somos anões em ombros de gigantes”. Pois bem, senhores, nós, torcedores de futebol, só somos o que somos hoje porque vimos nossos messias e gigantes fazendo gols e nos dando alegrias ou então que nossos pais nos contavam nas histórias de ninar.

    Escrevo tudo isso por conta do maior ídolo que jamais conheci, do nosso rei, o Chuck Norris Rubro-Negro, o homem que contou o infinito duas vezes, que mijou e nasceu a cerveja, o criador do céu e da terra: Zico, o nosso Rei Arthur.

    Para refletir

    Vou falar exatamente do momento em que conheci ele, mas antes imagine a minha situação de rubro-negro mirim, meu caro leitor: o Vasco, na época, antes de ser rebaixado, apesar dos pesares, tinha um time melhor do que o do Flamengo. Mais do que tudo, tinha o meu ídolo de infância: Romário.

    Pois bem, assistindo a um jogo da Taça Rio de 2007, vi um potente Vasco meter três a zero no Flamengo. De quebra, vi Romário fazer um gol em cima de Bruno e quase meter o milésimo. Como eu chorei vendo aquele massacre! Me tranquei no quarto, comecei a me espancar e disse a mim mesmo: – vou virar Vasco, vou virar Vasco (até hoje sinto o peso daquelas lagrimas…).

    Depois de ter eliminado minha raiva e saído do meu quarto, aguentei a zoação do meu amigo Nelson e ouvi uma das maiores verdades ditas pelo meu falecido pai: -Vinicius, o Vasco vence clássicos, o Flamengo vence campeonatos.

    Nunca ouvi uma verdade mais verdadeira do que essa. Mas enfim…devaneei, devaneei e não falei o essencial. O que interessa é que meu pai começou a perceber uma falta de confiança e de autoestima rubro-negra de minha parte e me deu uns dois dvds para eu assistir.

    Mundo Zico

    Tratavam-se de dois dvds que mostravam todos os títulos e jogos rubro-negros de 1978 a 2001. E foi aí que vi Zico.

    O galinho de Quintino tinha uma classe, uma elegância que faltou e falta a maioria dos jogadores de futebol. Parecia que ele podia colocar a bola onde ele queria. Cada passe dele era uma pintura. E cada traçado dessa pintura, um manancial de nuances que só Raymond Chandler e Thomas Mann – gênios na arte da descrição – poderiam explicar.

    A primeira bola que vi dele foi aquele cruzamento na cabeça de Rondinelli. Como ele achou o Rondinelli ali? E que chá de camomila ele tomou para ser tão frio e calmo num momento em que os vascaínos já estavam gritando “Campeão”?

    A segunda bola que eu vi foi aquele passe vertical que colocou Nunes de frente para João Leite, em 1980. Foi quando vi este passe também que vi que estava diante de um gênio. Nunca mais alguém falaria mal do Flamengo na minha frente. Minha autoestima estava renovada.

    Outra coisa que muito me impressionou foram as faltas. Qualquer um poderia bater faltas e fazer gols, mas ninguém batia como batia Zico.

    A falta que eu mais gostei de ver e que mostrou o que esse eterno menino de Quintino podia fazer foi aquela falta em cima do Santa Cruz. Hoje, ao ver Cristiano Ronaldo e Messi, é muito comum ver torcedores adversários aplaudindo-os. No caso em tela, o próprio goleiro adversário havia dito “eu preciso ver o gol que ele irá fazer em mim”. E que golaço! A bola encobriu o goleiro apaixonado e foi lá no cantinho, lá onde a coruja dorme.

    Reflexões sobre a liderança de Zico e um feliz natal rubro-negro

    Mas em verdade vos digo, meus amigos: o que me impressionou mais não foram os passes ou as faltas, mas sim a liderança de Zico dentro de campo, coisa rara nestes tempos de soja.

    Já ouvi certa vez falarem que Napoleão se tornou imperador e vencia guerras porque ele fez com que todos os seus comandados morressem e matassem por ele.

    Pois bem, Zico fez a mesma coisa. O jogo era outro com Zico em campo. A bola tinha que passar por ele e o mesmo tinha uma capacidade rara de orientar e apoiar os seus companheiros.

    Tanto é assim que nenhum de seus antigos companheiros ousam falar mal dele. Aliás, nenhuma alma, seja ela penada ou viva, ousa falar mal de Zico. Deve ser pelo fato deles serem apóstolos de improviso e terem visto o verbo se fazer carne.

    Um feliz natal a todos e um ano-novo cheio de títulos e glorias para nós, rubro-negros. Abraços!

    Escrito por: Vinicius Motta

    Leia também: Desfile do Flamengo campeão ao vivo


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