Temos sido testemunhas da jornada de um colosso morto vivo capaz de andar apenas para trás. Um zumbi, letárgico e resignado, formado de uma carne que se apresenta viva aos olhos de quem a vislumbra, mas que carrega dentro de si as razões da própria autofagia.
Largado em praça pública, o fedor que dele emana conta apenas com a indiferença dos que deveriam preservá-lo. Muitos de nós, por algum tempo, também resistimos a encará-lo, assim como fazíamos quando crianças com aquele vulto espiado em meio à escuridão na hora de dormir.
Uma silhueta que fingíamos ignorar enquanto cerrávamos os olhos na ânsia do sono capaz de levar consigo todas as aflições. Ocorre que, nesse domingo, tal vulto chegou perto o suficiente e nos cutucou antes que pudéssemos sonhar.
Não haverá milagre como aquele em que o agora carrasco Dorival nos embalou há menos de um ano atrás.
Quem será o candidato da vez a Dr. Frankenstein?
O herói imbuído da missão de energizar esse corpo inerte com a eletricidade que o faça pulsar em uníssono na direção do final agridoce que nos restou. É verdade que virar o ano sem a vaga na libertadores será um sepultamento em cova rasa.
Bastará uma leve chuva para que os restos mortais se ofereçam às mesmas criaturas carniceiras que insistem em rondar os muros do cemitério. O corpo em questão demanda cuidados preventivos. Ele carece do acompanhamento profissional permanente que o seu gigantismo reclama.
Não bastará mais gritar “it’s alive”, mesmo que esse brado termine acompanhado do coro catártico das multidões de sempre. O que quer que se faça agora, deve servir de faísca para que a descarga, finalmente, eletrifique também os andares mais altos.
Futebol do Flamengo
O futebol do Flamengo não pode mais ser embalsamado visando tão somente à sua preservação pelos próximos seis meses. Ele precisa ser mantido fora do necrotério, alheio a qualquer necessidade de ressureição. Uma vez que se ponha de pé, ele deve ficar distante das varejeiras que insistem em pousar sobre sua pele à espera da próxima pústula entreaberta que possa servir de atalho para suas ambições pessoais. Parece simples, mas não é.
Como acontece em todos os campos da vida humana, os mesmos que há alguns anos se apresentaram como outsiders e juravam defender certos mantras, são os que, com a caneta em mãos, lutam contra a sua implementação e buscam se encastelar numa permanente ação entre amigos.
O Flamengo é infinitamente maior do que picuinhas clubísticas, conchavos engendrados à beira da piscina ou devaneios egocêntricos de frustrados aspirantes a dirigentes. Profissionalismo e planejamento já, de cima a baixo. Passou da hora.
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Parabéns! Bela análise, muito bem escrita!