Para muitos analistas, o perfil do torcedor de futebol hoje está mudado. Ao pagar caro por ingresso, beberagem, mensalidade e direito a ir aos jogos (o pacote sócio-torcedor), o frequentador de estádios tem se transformado em cliente, um consumidor que não quer mais saber de amor à camisa, formação de talentos, craques ou emoção: quer voltar para casa com os três pontos, custe o que custar. Como o velho bandido da anedota, é a vitória ou a vida.
Mas quem saberá de fato o que se esconde no coração dos homens e mulheres amantes do futebol? Quem talvez tenha chegado mais perto de entender essa paixão cega foi um velho presidente do Flamengo, tão respeitado que virou rua em frente à sede do clube.
Flamengo, um século de paixão
A história foi contada pelo cronista Marcos de Castro, no livro “Flamengo, um século de paixão”, publicado em 1995.
Marcos, pai do intrépido repórter Lucio de Castro, decidiu abrir o capítulo sobre a torcida flamenga com esta curiosa historieta, ocorrida entre 1961 e 1966, época em que o filho de libaneses Fadel Fadel (1914-1969) presidiu o Clube de Regatas, após ser eleito e reeleito.
Conta, Marcos de Castro:
“Era um amistoso sem nenhuma importância, tanto que Fadel Fadel nem se lembra direito do adversário. Lembra-se vagamente de que o jogo terminou empatado. Fadel ia saindo do Maracanã, caminhando pelo estacionamento em busca do carro, quando o cumprimenta um senhor de meia-idade, cabelos grisalhos, pele curtida de cor indefinida, e com uma surrada camisa rubro-negra.
Afável, sobretudo com torcedores do seu clube, Fadel responde ao cumprimento e ouve paciente o que o homem começa a lhe dizer:
– Seu Fadel, foi bom encontrar o senhor. O senhor é um homem importante, presidente do Flamengo, tem sua família, sua mulher, seus filhos, sua casa… Tem um carro bonito, tem os seus negócios… Eu queria fazer-lhe um pedido.
Fadel deixa a mão deslizar até o bolso, adivinhando o tipo de pedido que ia ouvir. O torcedor continua:
– Seu Fadel, eu queria lhe pedir para o senhor cuidar muito bem do Flamengo. O senhor tem tudo na vida, mas eu só tenho uma coisa, seu Fadel: o Flamengo. Por favor, cuide bem dele.
Fadel acha que só naquele dia entendeu profundamente o que é a paixão pelo Flamengo.”
E você, quando e com quem aprendeu de verdade o que é a paixão pelas cores preta e vermelha? Comente com a gente aqui embaixo.
Escrito por: Marcelo Dunlop
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